Episódio 7: O Formula Student

Em 2000, quem frequentasse os corredores do Técnico arriscava cruzar-se com um grupo de alunos a fazer o primeiro esboço de um veículo num papel gigante afixado num contraplacado. Estava prestes a nascer o primeiro modelo do Formula Student do Instituto Superior Técnico (FST), nesta fase ainda confinado a um desenho à escala real. O projeto começou com um grupo de amigos, ligados à associação Fórum Mecânica. “O projeto final de curso ia ser feito no ano seguinte e achámos a ideia bastante interessante”, explica Luís Simões, antigo aluno do Técnico e o primeiro capitão da equipa FST, que viria a produzir o primeiro carro do projeto, o FST01.
De que estamos a falar? “Um carro com aspeto de competição e rodas expostas tipo fórmula, com dimensões bastante compactas, concebidas para o tipo de competição em que vai correr, em circuitos pequenos com muitas curvas, em que a agilidade é mais importante do que a velocidade”.

O primeiro modelo foi projetado em torno de um motor avariado de uma mota, emprestado por uma marca do setor, o que permitiu que a equipa participasse já em 2001 nas provas teóricas de uma competição internacional. “Fomos a Inglaterra ainda só com um monte de tubos soldados e um motor antigo avariado mostrar uma maquete. A partir daí (em 2002) tivemos então um motor funcional”, conta. “Metemos o carro a andar pela primeira vez já em Inglaterra, uma vez que não conseguimos ter o carro pronto em Portugal e foi acabado de montar lá. Foi muito positivo. Tínhamos chegado ao final de uma aventura de mais de dois anos e com um carro que funcionou”, complementa. O primeiro a pilotar foi o antigo aluno José Borges, mas Luís Simões também o fez: “A primeira vez que o conduzi fiquei com um sorriso de orelha a orelha”, recorda.
Não surpreende, por isso, que o primeiro modelo do FST ainda desperte paixões. “É provavelmente o carro menos sofisticado de todos eles, mas foi o primeiro e tem que ser reconhecido por isso”, diz Luís Simões. André Correia, atual team leader da equipa, também não tem dúvidas: “É o começo, mostra o que se faz com pouco, como é que se começa do nada um projeto deste tamanho. É um legado que foi deixado nos últimos vinte anos e é o que plantou o projeto. É uma grande paixão e um orgulho. Olhar para aquele carro é mesmo… eu adoro aquele carro, basicamente é isso”.

Hoje, mais de 20 anos e muitas corridas depois, o FST envolve cerca de 60 estudantes do Técnico, organizados em dois projetos de carros diferentes: Elétrico e Autónomo. Com um reportório de 9 protótipos (3 a combustão e 6 elétricos), o FST tem dois carros em finalização: o 10E, o 7.º elétrico; e o 10D, o primeiro carro autónomo do FST, que avançará para competições sem piloto. No histórico de competições, consta um 9.º lugar alcançado em 2019, na Alemanha, na mais importante competição mundial. “Não somos os melhores do mundo, mas estamos na parte de cima do ranking”, descreve André Correia.
E o que se segue no futuro? Para além de poderem contar com a ajuda (muito limitada pelos regulamentos das competições) dos Professores do Técnico e dos amuletos da sorte – vários patinhos de borracha chamados Custódio sempre presentes nos veículos – há o espírito constante de inovar e fazer algo melhor. “Não há fim à vista”, diz André Correia.

 

Do motor avariado de uma mota, que serviu de base para a construção do primeiro protótipo até aos últimos modelos de veículos elétricos e autónomos, muitas são as histórias e as corridas do projeto Formula Student do Técnico (FST Lisboa). Desenhado inicialmente em papel, à escala real, ganhava corpo em 2001 o FST01, modelo que ocupa o primeiro lugar da história partilhada esta semana no podcast “110 Histórias | 110 Objetos” (7.º episódio).

110 anos de história e de histórias… para ouvir todas semanas.

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