Episódio 97: A experiência de rotação de Faraday

O Museu Faraday, instalado no campus Alameda do Instituto Superior Técnico desde 2015, é um testemunho do engenho, da história da ciência, mas sobretudo de como a curiosidade experimental da humanidade pode ter consequências imprevisíveis no futuro. A história da experiência de rotação de Faraday começa nos finais do século XIX, com um homem a fazer experiências no seu laboratório e a descobrir a primeira demonstração da interação de um campo magnético com a luz, designada como rotação de Faraday ou efeito de Faraday. Era o primeiro feixe de luz a iluminar um caminho que, quase um século depois, permitiria a milhões de pessoas ouvirem música ou verem filmes com leitores de CD e de DVD, por exemplo.
Recuamos aos tempos de Michael Faraday, com um enquadramento feito por Carlos Ferreira Fernandes, professor aposentado do Instituto Superior Técnico e atual diretor executivo do Museu Faraday: “Faraday trabalhou no fabrico de novos vidros muito densos e estudou as propriedades óticas desses mesmos vidros. No fundo, o resultado desta experiência, que nós executamos no museu Faraday, deriva do facto de ele ter sido um curioso e um curioso muito especial, com formação, um curioso que gostava de tocar nas coisas. E assim ligou os seus interesses na altura”. O interesse do cientista pelos campos magnéticos e pelas propriedades magnéticas e óticas dos materiais conduziu-o à experiência da rotação com o seu nome. “Ele foi a pessoa que descobriu a ligação entre um campo magnético e a luz. E é o primeiro que estabelece essa ligação porque a observa e como era curioso gostava de fundamentar aquilo que observava”, complementa.

Essas experiências, realizadas com um eletromagneto gigante no seu laboratório em Londres, abriam portas que nem o próprio podia imaginar exploradas já no século XX no domínio das micro-ondas e dos leitores óticos dos CDs e dos DVDs. “Claro que ele estava longe de sonhar com isso, mas foi o precursor de todos esses acontecimentos por aquilo que fez mexer. Nisso ele foi brilhante”, defende Carlos Ferreira Fernandes. É também por isso que os professores do Técnico o escolheram para dar nome ao Museu.
Esta experiência foi também muito usada, nos anos 80, por este antigo professor do Técnico, na disciplina de “Propriedades Eletromagnéticas dos Materiais”. A ideia era “fazer os alunos verem qualquer coisa e assim assimilar melhor a matéria”, recorda. A recriação da experiência permanece hoje uma possibilidade na coleção do Museu Faraday.
“Esse eletromagneto foi depois replicado por um fabricante francês, Eugène Adrien Ducretet, que é quem construiu a unidade que nós temos aqui no Museu Faraday. O que temos no Técnico é um Ducretet mais recente do que aqueles que apresentou na Exposição Universal de Paris (em 1878)”, explica Moisés Piedade, diretor honorário do Museu e professor aposentado do Técnico. A data de construção do objeto é apontada para o período entre 1900 e 1920, mas sem certezas. O raciocínio: “Fez vários instrumentos científicos magníficos e terminou a fazer rádios magníficos, por volta de 1920. são os rádios mais icónicos que atualmente existem”. A partir da altura em que a rádio começou-se a desenvolver a empresa chamou-se Ducretet Thompson. Até lá, apostava na criação de elementos pedagógicos e científicos. “Este instrumento deve estar na zona de clivagem em que Ducretet passou dos instrumentos científicos para os rádios. Estimo que entre 1900 e 1920 tenha surgido este objeto, que é bastante mais evoluído do que os que foram apresentados em 1878”, aposta Moisés Piedade.
No escuro deixaremos também a descrição da forma como o objeto veio parar ao Técnico. “Temos aqui alguns objetos que vieram do Instituto Industrial de Lisboa e eu não tenho a certeza se este já foi comprado por volta de 1911. Provavelmente poderá ser mais velho que o próprio Técnico, como muitos no Museu Faraday”, complementa.

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