Episódio 99: O Diferencial

A circular de mão em mão desde 1987, o Diferencial – “jornal dos estudantes do Instituto Superior Técnico” tem-se adaptado ao passar do tempo e a vários formatos, sempre mantendo o foco em dar voz às “maiores discussões da atualidade, tanto ao nível da universidade, como do país e do mundo” (como se pode ler no Estatuto Editorial). Hoje, é também fonte de possibilidades de encontro muito para além das palavras e dos textos nas versões impressa e online. Os membros desta secção autónoma da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST) conduzem debates, organizam clubes e concursos de poesia, sessões de cinema, divulgam agendas culturais, publicam podcasts e playlists temáticas… tudo para “fomentar [nos estudantes] um sentido crítico direcionado aos outros campos e problemas da vida como a política, a filosofia, a cultura e a humanidade em geral”.
O caminho deste projeto começou a traçar-se há mais de 40 anos, em 1987, num Macintosh recém-chegado à AEIST e que era utilizado por um especialista: Gerardo Lisboa, antigo estudante de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores que assumiu os primeiros três primeiros números do (na altura) boletim Diferencial. “Eu era a redação”, brinca. Nessa altura, a publicação surgira para dar resposta à necessidade da AEIST comunicar com os estudantes para além do passa-palavra. “Era quase só pôr por escrito aquilo que a direção estava a fazer. Não tinha realmente grande conteúdo noticioso, era informativo”, descreve. Foi também uma espécie de continuidade da Revista Binómio, que havia sido criada nos finais dos anos 50. “Era uma revista que dava muito trabalho e levava seis meses a ser feita, o que era incompatível com a necessidade da AE comunicar rapidamente qualquer coisa”, explica Gerardo Lisboa.

“Surgiu a ideia de lhe chamar Diferencial, que era a matéria que estava a ter na altura em Análise de Matemática”, recorda. O primeiro tema abordado nas páginas da nova publicação foi “uma confusão que havia com exames e o registo de exames e havia que avisar muita gente, muito depressa”. Resultado: texto, design, impressão e três mil exemplares a circular entre estudantes. Quatro páginas A5 por dobrar. “Deixámos aquilo nas mesas e se o pessoal quisesse depois dobrava em casa. Assim foi feito”. Depois dos três boletins da autoria de Gerardo Lisboa, seguiram-se mais quatro feitos pelos responsáveis da secção desportiva.

Mais tarde, em 1991, chegava a grande transformação do Diferencial, operado por Miguel Lobo, na altura a frequentar o segundo ano do mesmo curso e que propôs transformar o boletim num jornal. “Queria fazer uma equipa e transformar aquilo em algo que as pessoas pudessem ler frequentemente. E a direção achou bem. Deu o espaço e ajudou com os computadores”, recorda Gerardo Lisboa. “Não sabiam na altura que o ímpeto era de desafio. Ir buscar as notícias e informações mesmo que fossem incómodas para a direção. Mas não houve qualquer tentativa de interferência, se bem que às vezes pediam (e bem) um direito de resposta”, complementa. E assim caminhava o Diferencial para um formato e uma filosofia próxima das que temos hoje.
“Continuamos a ter edições impressas, mas ao contrário do que acontecia até há cinco ou seis anos, o nosso foco atualmente (e aquilo nos traz mais audiência) consiste em publicarmos os nossos trabalhos primeiro online, no nosso site”. Estamos já em 2023, com mais de 130 edições publicadas, e fala João Carranca, estudante de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores no Técnico e atual diretor do jornal Diferencial. Só depois da edição online, surge a impressa, pensada para “chegar a públicos diferentes”.
O projeto conta atualmente com 35 membros ativos e mantém o foco em questões relacionadas com a Escola. “Para além disso, publicamos uma diversidade bastante grande de géneros, desde poemas, textos mais de foco literário, contos, reviews de jogos, também publicações sobre eventos culturais de Lisboa e do resto do país”, explica. A digitalização do Diferencial tem sido também uma espécie de receita para o presente e futuro. “Temos feito um esforço para ir ao encontro das exigências da audiência. E temos vindo a crescer em termos de visualizações, de números e também em termos de colaboradores. Diria que o jornal tem de facto futuro”, sublinha João Carranca.

 

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