Episódio 14: Os Mapas Tridimensionais

São três mapas e não passam despercebidos a quem entra no Pavilhão de Civil do campus Alameda do Instituto Superior Técnico ou aos que visitam o Museu de Civil do Técnico. Os mapas tridimensionais, datados de 1937, personificam aquilo que Filipe Folque (1800-1874), uma das grandes figuras da cartografia, dizia sobre essa área de conhecimento: misturam arte e engenho. A arte destes mapas feitos à escala, com cerca de um metro de altura, é assumida com materiais de gesso, curvas de nível e lamelados de madeira que colados uns aos outros fazem o relevo. António Lamas, Professor catedrático jubilado do Departamento de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico, conduz-nos pela geografia dos dois mapas que estão no hall de entrada do edifício.
Mapa um: “Isto é o Porto de Lisboa, o plano de ordenamento do Porto de Lisboa de 1937. Vemos o Terreiro do Paço, a doca de Alcântara, que vai até Belém. Deve ter sido uma maquete que foi mandada para o Técnico”.
Mapa dois: “É o Estuário do Tejo, numa escala maior. Esta é mais didática ainda. Lisboa com um pormenor enorme. Devem ter sido feitas para uma exposição de obras públicas na altura. Temos um relevo até Póvoa de Santa Iria, baixa de Loures, Odivelas… os mouchões, aquelas ilhas no Tejo que são um bocadinho movediças…e tem um pormenor da Europa também”.
O terceiro mapa está no Museu de Civil e é-nos apresentado por Ana Paula Falcão, professora auxiliar no Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos do Instituto Superior Técnico, responsável pela unidade curricular de Topografia. “Temos toda a área de Portugal continental representada neste suporte físico. O que prevalece neste mapa é a representação do relevo, de onde saem as serras, as montanhas, as elevações, mas também os vales e as linhas de água”.

 

Datados da década de 1937, os mapas foram executados por José Estevão Vitória Pereira, inventor do processo de modelação. Apenas quase 60 anos depois passaram a ocupar lugar de destaque num edifício do Técnico. “Quando viemos para aqui [Edifício de Engenharia Civil, inaugurado no início dos anos 90] eu tive a incumbência de distribuir espaços e de supervisionar a decoração”, explica António Lamas. Lembrava-se de ter visto os mapas há muito tempo, no Pavilhão Central, numa sala de arrumações. “É uma história de andar por aí há muitos anos e conhecer as originalidades do nosso Técnico”, conta. Uma dessas originalidades: nos anos 70 vira os mapas numa sala de arrumações, a mesma onde alguns funcionários criavam galinhas e recolhiam ovos. “Tinha curiosidade e fui ver a criação de galinhas lá em cima. Lembro-me perfeitamente dos mapas. Estavam sem proteção e esmurrados, encostados à parede”, recorda. Nos anos 90, foram restaurados e “as pessoas ficaram encantadas” com o resultado final, exposto desde então.

 

Ana Paula Falcão explica-nos também a importância destas obras: “Nessa altura já tínhamos cartografia rigorosa, com referencial comum para toda a área geográfica de Portugal continental, mas não era frequente nem normal haver estas representações tridimensionais”, aponta. “A localização dos mapas é muito importante, primeiro pela beleza das cartografias, em segundo lugar porque queremos formar na nossa escola alunos com consciência, com leitura para o futuro, mas também com leitura para o passado. Estas maquetes são um bom exemplo dos cuidados que a nossa escola sempre foi tendo na educação dos alunos”, complementa.
O entusiasmo de Ana Paula Falcão pela cartografia vem de longa data e contagia também o seu quotidiano. “Eu era menina de andar com mapas atrás e ainda hoje tenho esse jeito de andar com os mapas atrás. Quando estou a ler no mapa, estou a ler outras coisas para além das indicações que os sistemas de navegação (como o GPS) me dão. Gosto de acompanhar as viagens com a cartografia e ver se o sistema de navegação não se engana”, brinca.

 

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