Episódio 68 – A maquete do campus Taguspark

O campus do Técnico em Oeiras foi inaugurado em 2000 e assumiu-se como um peça fundamental do ensino e da investigação da instituição. Integrado no Taguspark, hoje autodenominado “cidade do conhecimento”, o campus é ainda uma pequena parte do que foi idealizado e fixado nos anos 90.
A maquete do campus Taguspark, datada desse período, faz lembrar uma espécie de sextante (vista de cima), com uma rotunda central e vários edifícios radiais e circulares interligados. No terreno, estamos ainda no início do processo de aplicação de uma ideia desenvolvida por José Tribolet e Lourenço Fernandes, professores no Técnico, ainda no final dos anos 80, e sintetizada no projeto chamado Portugália. “Estivemos na Califórnia a trabalhar no desenho de um projeto que era uma coisa que tinha 300 hectares e que visava criar toda uma estrutura nova no país que fosse rentável a 40 ou 50 anos de distância”, explica José Tribolet, professor catedrático jubilado do Técnico, também fundador, antigo presidente do INESC – Instituto de Engenheira de Sistemas e Computadores e um dos criadores e antigo presidente do Departamento de Engenharia Informática. O projeto consistia na criação de um “parque de desenvolvimento de empresas de nova tecnologia e que precisava de ter ensino, investigação e sobretudo jovens estudantes que ficavam lá a trabalhar e iam lançar as suas empresas”. Esta ideia para uma espécie de “Coimbra dos tempos modernos” materializar-se-ia na constituição de uma sociedade em que em que as partes académicas (ensino e investigação) ficariam com 30% e 30 hectares de terreno.

Estamos a descrever o código genético do atual Taguspark, que se instalaria em Oeiras, depois de terem sido consideradas possibilidades como Santarém, Mafra, Setúbal e arredores de Lisboa. Ao avanço da autarquia de Oeiras juntaram-se a Universidade Técnica de Lisboa (UTL), hoje integrante da Universidade de Lisboa e o INESC. Nuns estatutos muito discutidos, fixavam-se 15 hectares de terreno para o Técnico, dez para o INESC e cinco para a UTL, ficando ainda reservados quatro hectares para a construção de residências escolares.
Fechado o conceito, era tempo de dar forma a um projeto arquitetónico. Do concurso público saiu vencedor, em 1997, um projeto de Manuel Pardal Monteiro e João Pardal Monteiro (a saber: sobrinhos-netos de Porfírio Pardal Monteiro, o “arquiteto de Lisboa” (1897-1957) – que projetou, entre 1928 e 1935, as instalações do campus do Técnico na Alameda (ouvir episódio 19) – e filhos de António Pardal Monteiro, sobrinho de Porfírio, autor dos projetos de ampliação nas instalações da Alameda, as Torres Norte e Sul, e também o edifício conhecido como Pavilhão de Civil, nos anos 90). “A dada altura no Técnico havia uma corrente que dizia ‘os Pardais fazem tudo, isto não pode ser, vamos abrir um concurso público internacional para fazer o campus do Taguspark’. O meu pai concursos não era com ele. Já tinha uma certa idade e não precisava disso. Nós, pelo contrário, éramos jovens arquitetos e precisávamos de nos afirmar. Quando falaram no concurso decidimos que tínhamos que fazer e ganhar”, lembra o arquiteto Manuel Pardal Monteiro. E assim foi.
Do projeto ao terreno a viagem não foi fácil e ainda ficou muito por fazer. “Desenvolveu-se aos bocadinhos, à medida dos orçamentos (entre 1997 e 2008). Está uma pequeníssima parte no terreno, apenas”, explica Manuel Pardal Monteiro. “Os financiamentos não foram distribuídos. Se não fosse o Técnico, a sua força, a sua autoridade, e a sua capacidade de decisão, não tinha sucedido nada”, defende José Tribolet. A decisão foi tomada por Diamantino Durão, presidente do Técnico entre 1984-1991 e entre 1993 e 2000, que decidiu avançar de forma progressiva em de vez de esperar para ter financiamento para todo o projeto.

Voltamos a 2000, com o campus no Taguspark pronto a abrir ao público, agora com o testemunho de Guilherme Arroz, antigo professor do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores do Técnico e antigo diretor adjunto para o Taguspark, durante o processo de abertura das instalações. “Todos nós tínhamos a visão de que era necessário olhar para as telecomunicações em Portugal e desenvolver uma coisa que nos permitisse seguir o que estava a acontecer no mundo todo. E quem diz telecomunicações, diz a introdução dos computadores, da automação, digamos da utilização de sistemas de informação em todo o tipo de atividades”, explica. A ideia para o campus era de “era preciso ter uma perspetiva diferente e mais interveniente do Técnico” (ouvir episódio 67). E apesar de grande parte do projeto estar por construir, Guilherme Arroz não tem dúvidas: “O Taguspark vai cumprir a sua missão. Está é com 20 anos de atraso”.

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