Episódio 109 – O Calorímetro

Medir calor através da variação da temperatura. Esta acção passou, desde há mais de um século (1898), a ser operacionalizada por um novo instrumento criado para o efeito – o calorímetro, com um exemplar ainda hoje a marcar presença no campus Alameda do Instituto Superior Técnico. “Eu confesso que quando olhei para aquilo pela primeira vez não acreditei que fosse um calorímetro”, introduz Hermínio Diogo, professor no Departamento de Engenharia Química do Técnico. “Estava à espera que um calorímetro tivesse um sistema de agitação ligeiramente diferente, e esse sistema de agitação é manual. Parece quase a roldana de um poço. Modernamente, obviamente, isso é tudo feito eletricamente. Num período intermédio, houve uma altura em que aquilo tinha uma pequena hélice, uma turbina, em que o motor fazia a agitação”, aprofunda. O professor do Técnico lembra-se de ver este calorímetro desde os seus tempos de aluno, exposto junto ao anfiteatro de Química. “Na altura nós até dizíamos que era o ‘calorímetro do vinho do Porto´” [risos], por estar revestido de tiras de madeira que faziam lembrar um pequeno barril. 

 

O calorímetro integra o espólio do Departamento de Química e, acredita-se, terá pertencido a Herculano de Carvalho (ouvir Episódio 49 – A Máquina de calcular, de manivela, de Herculano de Carvalho), diretor do Técnico entre 1938 e 1942. O instrumento esteve ligado à investigação que procurava determinar o poder calorífico de combustíveis, nomeadamente de carvões, enquadrada nos estudos para aproveitamento de minas de carvão do país. “Estamos a falar, provavelmente, entre os anos 30 e os anos 60, em que essas medidas foram feitas, usando esse aparelho. Essas e outras medidas eram necessárias para o poder energético, digamos assim, dos combustíveis. Não só do carvão, mas provavelmente de outros combustíveis sólidos e líquidos necessários na altura”, explica Hermínio Diogo.

“Começou por pensar-se em carvões para aquecimento, mas também para geração de eletricidade. Houve até contratos de desenvolvimento industrial em que, por exemplo, foi demonstrado o funcionamento de uma caldeira de leito fluidizado que tinha depois a possibilidade de passar o vapor gerado nessa caldeira numa turbina a vapor para geração de eletricidade”, explica Isabel Cabrita, atualmente professora no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e antiga diretora do Departamento de Energias Convencionais no Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial. Na altura em que assumiu esse cargo, nos anos 80, teve a oportunidade de levar consigo o calorímetro mas tal não viria a acontecer. “Levei os equipamentos que havia e foram selecionados precisamente os equipamentos mais modernos”, justifica. “Na altura o calorímetro já era uma peça de museu. Eu até estou satisfeita que tivesse ficado porque, ao fim de tantos anos, vim ter com ele, e se o tivesse levado comigo talvez não tivesse essa sorte, uma vez que neste momento não temos um museu de equipamento no laboratório”, defende. Hermínio Diogo concorda, com pragmatismo: “Está cá, está preservado, vamos preservá-lo e a história está contada”.

 

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