Episódio 43 – Os desenhos Didáticos de José Pedro Martins Barata

José Pedro Martins Barata chegou ao Técnico nos anos 90 para integrar o projeto de construção do antigo curso de Engenharia do Território. Para além da sua experiência, trouxe para a Escola um conjunto de desenhos didáticos que animaram as aulas e os dias no Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos (DECivil). “Trazia os desenhos já feitos com grande expetativa, era algo que ia sendo construído connosco quando ele trazia o primeiro esboço”, recorda Teresa Heitor, professora de Arquitetura do Técnico. “Gerava sempre umas sessões muito animadas de descoberta e de permanente construção. Era trazer o espírito de tertúlia para esses tempos do Técnico que tinham pouco”, complementa.
Onze desses desenhos originais encontram-se espalhados por duas salas de reuniões situadas no 2.º andar do DECivil. Foram feitos no início do curso de introdução à Engenharia do Território e posteriormente utilizados nas aulas de arquitetura e engenharia civil. Quando não havia essas “pranchas”, os desenhos surgiam naturalmente a giz no quadro da sala de aula. “O gosto e o gozo com que ele fazia aquilo… de uma história vinha outra, e sempre sobre a cidade de Lisboa”, recorda Teresa Heitor.
A partir desses desenhos originais surgiu, em 2019, uma publicação muito especial limitada a 350 exemplares e editada pela IST Press, a editora do Técnico, que incluiu a reprodução fac-similada de 25 desenhos, no formato A3, acondicionados numa pasta. “Optou-se por este livro-objeto, que pode ser usado com a finalidade inicial: desenhos que os docentes possam mostrar nas aulas”, explica Margarida Coimbra, responsável de comunicação da IST Press. “A nós interessou-nos a parte da qualidade artística (o traço, a cor) mas também a dimensão didática e o humor do autor”, explica. “Ele é um virtuoso do desenho. É muito interessante a forma como decide comunicar aos seus alunos coisas tão complexas de uma forma lúdica”, complementa António Faria, artista plástico e designer gráfico da IST Press.

Ao longo dos 25 desenhos, José Pedro Martins Barata explora o contexto histórico – do século XVII até aos anos 70 do século XX – analisando também sistemas de construção, cortes de edifícios e suas técnicas, os traçados ao longo da história, enquadrando também cada época com dados culturais e artísticos. O próprio autor, antigo professor do Técnico, hoje com 92 anos de idade, explica porquê: “Quis mostrar as três culturas. Temos que perceber o que é o complexo cultural de cada época. Na base estão três conceções de cultura que geralmente aparecem truncadas”. Fala-nos da cultura do saber (ciência), da cultura do sentir (as artes) e da cultura do fazer (a técnica). “Uma cultura completa do homem contemporâneo tem que ter pelo menos estas três componentes”, defende. Para Nuno Matos Silva, também antigo professor de Arquitetura do Técnico, é um exemplo de exploração da “fusão da arte com a técnica”. “É o símbolo da existência da Arquitetura aqui no Técnico, perceber que há um terreno onde se conjugam as duas componentes com igual projeção”, defende.
José Pedro Martins Barata chegou ao Técnico no início dos anos 90 a convite de António Lamas, professor catedrático jubilado do Instituto Superior Técnico. O que se esperava que fosse uma colaboração pontual prolongou-se por cerca de uma década em que traz para o Técnico “uma enorme criatividade, um gosto sobretudo por ensinar o desenho” (palavras de Teresa Heitor). É neto do aguarelista Roque Gameiro (1864-1935) e filho do artista Jaime Martins Barata (1899-1970). Licenciou-se em Arquitetura, mas também o seu percurso é multifacetado, com incursões pela ilustração, o urbanismo e o design.

No Técnico deixou, para além dos desenhos didáticos, os testemunhos da sua criatividade, expressa por exemplo na criação de uma espécie de clube secreto, certamente inspirado no filme “O Clube dos Poetas Mortos”. Começou secreto entre elementos do curso de Engenharia do Território e acabou por atrair pessoas de outras faculdades e professores de fora do Técnico. José Pedro Martins Barata recorda a regra única: “Ninguém era obrigado a fazer coisa nenhuma, só fazia o que lhe apetecesse. Depois das aulas encontravamo-nos com um ar um pouco clandestino e cada um fazia o que queria: ler, desenhar, etc. Arranjámos um espaço num Pavilhão com a seguinte obrigação: fica tudo limpinho e arrumado”.

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