Episódio 61 – Hounsfield, a máquina de ensaios

Estamos no Técnico, nos anos 70, onde dificilmente se encontra algum estudante do recém-criado curso de Engenharia Metalúrgica que não tenha usado a Hounsfield, uma máquina de ensaios que testava de forma rigorosa a resistência dos materiais para usar, por exemplo, na área da construção. O primeiro contacto com a tecnologia acontece na cadeira de Metalurgia Física 2, uma das cadeiras base do curso criado nessa década, na sequência do aumento do interesse nacional em desenvolver a siderurgia e em explorar a produção de energia nuclear. “Aquilo que se dava basicamente era o comportamento mecânico do material e era aí que entrava o Hounsfield. As propriedades mecânicas são das propriedades mais importantes dos materiais”, recorda Maria Emília Rosa, professora associada no Departamento de Engenharia Mecânica do Técnico e antiga aluna desse curso.
Quem também foi aluno do curso, que, entretanto, se viria a converter em Engenharia Metalúrgica e de Materiais e, mais recentemente, em Engenharia de Materiais, foi Luís Guerra Rosa, professor no Departamento de Engenharia Mecânica do Técnico. Define-a como “uma máquina de bancada para realizar ensaios mecânicos” e descreve o seu funcionamento de forma muito simples: “Para a maioria das pessoas o ensaio mais vulgar é o ensaio de tração, um provete que é tracionado, para se conhecerem as propriedades do material de que é feito”. Embora tenha ganho grande evidência no Técnico no contexto da metalurgia e da Engenharia de Materiais, esta máquina de ensaios mecânicos é “universal”: “Pode-se usar provetes dos mais variados materiais: plásticos, compósitos, cerâmicos…”.

A máquina adotou o último nome do seu inventor, Leslie Hounsfield, e começou a ser produzida nos anos 50 do séc. XX. Hoje em dia já foi substituída por versões modernas e digitais, mas naquela altura tinha as suas particularidades, como nos conta Maria Emília Rosa: “Eu trabalhei com ela com a manivela. A máquina tinha dois travessões: um fixo e outro que era móvel, que se movia num parafuso sem fim e que nós movíamos à manivela. Tentávamos mover com uma velocidade mais ou menos constante ao rodar a manivela. Era uma das recomendações que nos faziam”.

A Hounsfield chegou ao Técnico por empréstimo dos professores do então Laboratório de Física e Engenharia Nuclear – LFEN (hoje C2TN – Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares, uma estrutura que integra o Técnico), empenhados na aproximação entre o ensino e a indústria. “Como fazíamos alguns trabalhos práticos, como alunos, em Sacavém, deixaram-nos trazer a máquina para o Técnico”, recorda Luís Guerra Rosa. Foi uma espécie de empréstimo a fundo perdido, que o tempo haveria de regularizar através da integração do C2TN na estrutura do Técnico,em 2012. Passado à parte, hoje não há dúvidas que pertence ao Técnico e que gera entusiasmo também pelo seu carácter raro. “A máquina é fabulosa. E eu não conheço mais nenhuma em Portugal”, sintetiza.

 

História Extra:
Como se media a força aplicada nos tempos da manivela?
«Havia um reservatório de mercúrio e uma escala, que estava no lado direito da máquina, e à medida que íamos aplicando a força o mercúrio subia no tubo. Íamos com uma lupa íamos ver a altura do menisco do mercúrio no tubo. Ajustávamos com a lupa uma régua e picávamos o papel. Quando acabávamos o ensaio tínhamos o registo picado da força que tínhamos aplicado em cada instante em função do deslocamento. Saía o gráfico feito da força. O teste terminava quando o provete partia.»
(Maria Emília Rosa)

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