Episódio 76: O comutador de energia

Portugal era, no final dos anos 20 do século passado, um país essencialmente agrícola, com pouca capacidade industrial. O Técnico esteve no epicentro da gradual transformação tecnológica e no crescimento das áreas da engenharia no país. A Escola via chegar, aos poucos, a tecnologia necessária para liderar esse processo. Uma delas, que chegou a Portugal por via alemã entre 1927 e 1930, foi o comutador de energia, capaz de produzir e distribuir as potências necessárias de eletricidade para o laboratório de máquinas elétricas, no edifício de Eletricidade.
O objeto é revisitado e descrito por Paulo Branco, professor associado no Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores do Técnico: “Estamos a olhar para um equipamento que produz tensões trifásicas equilibradas – que atualmente vêm da subestação, dos transformadores daqui, mas na altura não havia o conceito de subestação para potências pequenas. Foi fornecido ao Técnico uma máquina com um sistema de corrente contínua de excitação e um gerador síncrono que produz três tensões trifásicas equilibradas”. Falamos da capacidade de gerar uma potência na ordem dos 36 kilowatts (Kw), assumida por uma máquina azul, da marca Siemens, com aspeto de duas máquinas geminadas. “Uma é a máquina motriz, a outra produz as tensões. No fundo estamos a ver aqui produção de potência mecânica transformada em potência elétrica”, explica Paulo Branco.

O comutador encontra-se ainda hoje nas instalações do campus Alameda, no Técnico, numa cave do laboratório de máquinas elétricas, a mesma onde foram instaladas as primeiras entradas de sistemas trifásicos de tensão da rede pública, entretanto descontinuadas. Os componentes desse sistema permanecem a testemunhar essa fase. “Temos uma parte separada deste laboratório, onde temos as máquinas que produzem parte da eletricidade para o laboratório de máquinas elétricas”, complementa Paulo Branco. Com o comutador chegou também ao Técnico um sistema de distribuição das tensões para o laboratório, dois painéis com cerca dois metros de altura e três metros de largura, com orifícios que distribuíam a corrente elétrica para a várias bancadas, com recurso a barras de cobre. “Naquela altura utilizavam ainda os fusíveis de cerâmica, não havia plástico nos disjuntores, eram de madeira. Com estas barras era possível direcionar para certas bancadas certas tensões e outros elementos aqui copulados”, descreve.

O objeto continua a cumprir uma importante função pedagógica junto dos estudantes do Técnico na compreensão da evolução dos sistemas de máquinas elétricas e também da importância histórica da instituição. Resta apenas saber se o comutador ainda é capaz de trabalhar. “Nunca vi isto a funcionar, mas está nas melhores condições possíveis. Um dia vamos colocar as máquinas a funcionar e gerar as tensões”, arrisca Paulo Branco. Mas quando? “Quando não me pergunte, talvez quando eu for para a reforma daqui a 15 anos”.

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