Episódio 81: Flexcraft, a aeronave modular

Tudo se resume a uma asa. Essa é a base do veículo e da tecnologia inovadora idealizada por investigadores e estudantes do Instituto Superior Técnico, no início deste século. Uma asa que pudesse ser operada remotamente, funcionando quase como um táxi aéreo que pode agarrar vários tipos de cabines com várias aplicações, do transporte de mercadoria ao socorro de vítimas.
Esta aeronave modular em forma de asa, batizada como Flexcraft, foi projetada para ter 15 metros de uma ponta a outra da asa e para permitir o transporte de uma carga até 1000 quilos (ou 8 ou 9 passageiros), durante cerca de 500 quilómetros. Um veículo aéreo completamente diferente das aeronaves tal como as conhecemos hoje. “Apercebemo-nos, no contacto com empresas logísticas, que há aqui um nicho de mercado que pode ser explorado para fazer a entrada desde centros que estão na periferia até aos grandes centros logísticos”, explica Fernando Lau, professor no Departamento de Engenharia Mecânica e coordenador do Mestrado em Engenharia Aeroespacial.
As possíveis aplicações desta asa que transporta cabines de um lado para o outro não se esgotam no transporte de mercadorias. “Uma das preocupações é com incêndios: imaginámos uma forma muito rápida de fazer o transporte de doentes com esse tipo de sistema”, complementa. As cabines podem ser várias coisas como contentores, ambulâncias, aeronaves de transporte de passageiros, entre outras.

O projeto surgiu no ano letivo de 2015/2016 e envolveu vários estudantes de mestrado e de doutoramento do Técnico. Bebeu ideias de um projeto anterior, mais dedicado a aeronaves convencionais, uma espécie de jato executivo, com capacidade para quatro passageiros, mas rapidamente se converteu nesta estratégia das asas voadoras. Esta missão de criar novos conceitos de aeronaves envolveu várias entidades, como o INEGI – Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI), a Alma Design e a Embraer Portugal.
A Flexcraft, desenhada para não precisar de uma pista convencional para levantar e aterrar, chegou a ter um modelo à escala de 1/10 (com 1,5 metros de ponta a ponta da asa, em vez dos 15 metros) que conseguiu levantar voo percorrendo 20 metros em seis segundos, num terreno de terra batida, durante um estudo de viabilidade de conceito. “O que imaginámos é que não precisaríamos de uma pista convencional. Podiam ser centros logísticos, armazéns, que tivessem algum terreno à volta”, explica Fernando Lau.

Ao mesmo tempo, os outros parceiros do projeto estavam a construir uma cabine à escala, que foi apresentada aqui no campus na Alameda do Técnico, em 2020, na apresentação final do projeto. “Qualquer pessoa que entrasse conseguia ver de forma tão realista quanto possível como seria um voo na aeronave. Inclusivamente houve a criação de um sistema de realidade virtual, com capacetes, em que a pessoa dentro da aeronave também conseguia imaginar como é que seria o voo”, explica. Ficou só mesmo a faltar uma asa em tamanho real, objetivo que não se concretizou por força “da pandemia e da incerteza que se gerou”. E o que se segue? “Estamos a pensar numa nova candidatura, passando para uma aeronave de voo vertical, inspirada no flexcraft”, responde Fernando Lau.

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