Episódio 4: Chico, o Robot

Chama-se Chico, tem quinze anos de idade mas foi desenhado para ter sempre três. Vive no Instituto Superior Técnico, mais especificamente no 7.º andar da Torre Norte, do campus da Alameda (Lisboa), nas instalações do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR Lisboa). Veio ao mundo para nos ajudar a perceber como funciona o cérebro humano. Chamamos-lhe Chico, mas trata-se de um iCub – uma “cria robótica” -, um robot humanóide, com características físicas parecidas com uma criança humana, que é dos mais avançados do mundo em termos de capacidade de movimento. “Foi desenvolvido para estudar como é que o cérebro humano funciona, como é que os seres humanos aprendem, como é que o desenvolvimento das crianças se processa”, explica José Santos-Victor, professor do Departamento de Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores e Presidente do ISR Lisboa.

Quando falamos em Chico estamos a referir-nos a um robot com 53 motores móveis na cabeça, braços, mãos, cintura e pernas, que inclui câmaras com desempenho de movimento semelhante aos humanos, capacidades auditivas estéreo e sensores táteis. Uma máquina complexa que executa expressões faciais realistas e movimentos com as mãos, cintura, braços e olhos. Para além do Chico português, do Técnico, há cerca de 30 em todo o mundo, desenvolvidos no âmbito de um consórcio de investigação internacional, de origem europeia – o iCub. Em Portugal foi desenhada a cabeça do robot, assim como o aspeto exterior das cascas e das suas expressões e algumas funções cognitivas ligadas à aprendizagem, à visão e à manipulação.

E como é que o Chico nos pode ajudar a perceber melhor o cérebro dos humanos? O projeto reúne pessoas da Engenharia, das Neurociências e da Psicologia, que desenham e analisam hipóteses científicas assentes na interação física do robot com o mundo. “O nosso cérebro é como é porque está agarrado a um corpo e esse corpo movimenta-se no mundo. O cérebro artificial [do Chico] tinha que ter também um corpo, tinha que agir no mundo e surgiu a necessidade de fazer este robot”, conta José Santos-Victor. “Muito do que ele faz não é pré-programado – e isso para nós é importante. Nós não programamos a vida do robot. Ele vai interagindo com o mundo e as coisas vão-se sucedendo. E às vezes temos que tentar interpretar um comportamento de que não estamos à espera, perceber por que é que tomou aquela decisão ou reagiu de determinada maneira”. Procura-se respostas a perguntas como ‘Como é que o cérebro de uma criança está a decidir ter um determinado comportamento e não outro?’. “Ao criar hipóteses, tenta-se perceber quais são os algoritmos que poderiam recriar aquele mesmo comportamento numa máquina artificial. Podemos ver se o nosso corpo robótico, com aqueles algoritmos, reproduz aquele comportamento. Se assim for, podemos perceber melhor como é que esses comportamentos surgem”.
O Chico, ou iCub, tem ainda outra característica distintiva: é um livro aberto. Ou, por outras palavras, é um projeto open source (de plataforma aberta), sendo pública a informação sobre as suas componentes mecânicas, os circuitos, o software e os algoritmos implementados. “Cruzamos e trabalhamos por cima dos resultados de outros investigadores. Conseguimos ter uma comunidade bastante alargada de pessoas que estão a tentar perceber como funciona a cognição humana e em que a infraestrutura principal experimental é igual para todos “, explica Santos-Víctor.

O Chico não foi, contudo, o primeiro robot a animar os corredores e a investigação do ISR Lisboa. Tudo começou com o já reformado Baltazar, constituído por uma cabeça, um tronco, uma mão e um braço. Mas isso talvez seja uma história para outro programa.

O Chico é um robot que ajuda investigadores do Técnico a perceber como funciona o cérebro humano, juntando Engenharia, Neurociências e Psicologia. Construído à imagem de uma criança de três anos, este robot humanóide é dos mais avançados do mundo em termos de capacidade de movimento. A história desta “cria robótica” no quarto episódio do podcast “110 Histórias | 110 Objetos”.

  • Agradecimentos:
    José Santos-Victor, professor do Departamento de Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores e Presidente do ISR Lisboa
    Chico, o robot

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