Episódio 84: As bicicletas do Técnico

O campus Alameda do Técnico está, hoje em dia, rodeado por uma rede de ciclovias e por docas de estacionamento da Gira, o serviço público de partilha de bicicletas de Lisboa, entre outras soluções de mobilidade. É já expressivo o número de membros da comunidade académica que se faz deslocar de bicicleta até ao Técnico, mas não é preciso recuar muito no tempo para encontrar uma realidade completamente diferente. Em 2015, chegavam as “bicicletas do Técnico” através do primeiro de dois projetos que colocaram o veículo de duas rodas no radar das opções de mobilidade sustentável da comunidade.
Nascia o projeto “A pedalar” com a missão de emprestar bicicletas de forma gratuita “para testar o percurso casa-trabalho e desmistificar os receios de andar na cidade de bicicleta”. Marta Pile, da Área de Estudos, Planeamento e Qualidade do Técnico, coordenou o projeto, que se integrava na Semana Europeia da Mobilidade e concretizava uma ideia que tinha sido apresentada e descontinuada pela Reitoria da Universidade de Lisboa. “Na altura havia poucas pessoas a vir de bicicleta para o Técnico, não havia praticamente estacionamentos de bicicleta, e tivemos esta ideia de acordar um bocadinho a nossa população para esta realidade sustentável e prazerosa que é andar de bicicleta”, recorda. O “A pedalar” colocou ao serviço da comunidade 40 veículos (20 alugadas em segunda mão, dez emprestadas por membros da comunidade e outras dez adquiridas pelo Técnico com o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos). O balanço não deixa dúvidas: “Apesar de ter havido muita adesão, apesar de não haver ciclovias ou estacionamentos específicos para bicicletas no campus, houve adesão e a população ficou desperta”, acrescenta.

Hoje em dia, o projeto ainda tem duas bicicletas disponíveis gratuitamente “para que as pessoas utilizem num registo de algumas horas, de um dia para o outro, dois dias, para experimentarem”. As outras oito transitaram para o projeto “U-bike Portugal – Operação Técnico”, que começou a emprestar bicicletas elétricas à comunidade do Técnico a partir de 2018. É aqui que entra Mário de Matos, da Área de Instalações e Equipamentos do Técnico, e responsável técnico desde 2016 do projeto. Em resposta a uma chamada para promover o uso de bicicletas elétricas e convencionais na comunidade académica, surgiu esta nova vaga de mobilidade sustentável. “Começámos a desenvolver um projeto de colocação de parqueamentos para bicicletas nos campi do Instituto Superior Técnico e definição das caraterísticas técnicas das bicicletas, em particular das elétricas”, recorda Mário de Matos. “A evolução tem sido exponencial, mas em 2016 não havia ainda conhecimento disseminado do que é que era uma boa bicicleta elétrica e quais as caraterísticas ideais”, complementa. Encontrado o modelo, era tempo de distribuir as bicicletas pela comunidade através de sorteio, em setembro de 2018. Eram 20 bicicletas para 350 inscritos no projeto que pudesse rodar o mais possível. “A ideia é que os utilizadores ao fim de algum tempo pudessem entusiasmar-se de tal forma por este meio que os levasse a adquirir a sua bicicleta”, explica. Esse modelo, que veio a ser interrompido pela pandemia, permitiria que houvesse mais utilizadores a usar as bicicletas do projeto. Até hoje, foram 132 os utilizadores que usaram essas vinte bicicletas.
Com o projeto U-Bike nasceu também nesse ano, na garagem do Pavilhão de Civil do campus Alameda, a cicloficina, um espaço dedicado ao apoio ao utilizador da bicicleta, totalmente financiado pelo Técnico. O objetivo é “disponibilizar ferramentas a qualquer momento, como encher um pneu, disponibilizar apoio mais alargado a nível de troca de ideias e apoio sobre como se faz a manutenção da nossa própria bicicleta”, explica Mário de Matos.

Com os dois projetos ainda em curso, o balanço não se faz apenas pelo aumento do número de utilizadores de bicicleta na cidade e no campus, mas também na transformação de infraestruturas como os parqueamentos. “Antes do projeto [U-bike] se iniciar tínhamos cerca de 50 lugares e apenas no campus Alameda. Neste momento, temos aqui 200 lugares e também no campus Taguspark (Oeiras) e no campus Tecnológico e Nuclear (Loures), onde não havia qualquer lugar para estacionar as bicicletas”, explica Mário de Matos. E tem valido a pena? Marta Pile responde: “Neste momento já há ciclovias, uma maior cultura de andar de bicicleta aqui em Lisboa e menos receio”.

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