Episódio 36 – A bilha de azeite

É hoje um dos símbolos do Grupo de Cantares Tradicionais do Instituto Superior Técnico, mas fez um grande caminho no tempo até aqui chegar. A bilha de azeite chegou ao Técnico durante o período da construção do campus da Alameda do Técnico, que durou entre 1929 e 1942, e esteve escondida entre caves e arquivos até ser adotada pelo grupo do Técnico, fundado em 2001. Vamos por partes e pelas palavras de Delminda Carneiro, funcionária aposentada do Técnico e uma das fundadoras do grupo: O Engenheiro Duarte Pacheco, diretor do Técnico à época da sua construção (ouvir episódio 19), “trouxe – não sei se da terra dele – dois Senhores que vieram para ajudar nas obras da construção do Instituto Superior Técnico e deu-lhes casa na cave do Edifício Central”. A partir de então, e por tempo difícil de determinar, viveram dois casais no edifício principal do Técnico, que se viram a tornar funcionários do Técnico. Quando as casas ficaram livres e as equipas do Técnico foram retirar os pertences, foram encontrados dois objetos históricos – um merendeiro de vime e a bilha de azeite. “Eles eram ali da região de Cernache do Bonjardim ou da Sertã. Os objetos são naturais dessa região e muito antigos”, descreve. O irmão de Delmina, Hermínio Carneiro, esteve nessa equipa que desmantelou a casa e ao ver os objetos históricos, decidiu guardá-los num arquivo morto da secção de contabilidade. O objeto passou quase uma vida no Técnico e assim avançamos décadas e décadas até à fundação do Grupo de Cantares Tradicionais: “Quando fundámos o grupo, ele trouxe estes dois acessórios tradicionais porque fazia todo o sentido que fizessem parte do Grupo”.
Esta bilha de azeite, ou talha de azeite dependendo da região, encarna também na perfeição os objetivos deste grupo. “O Grupo de Cantares, preserva não só as modas (género musical) mas também os usos e costumes de antigamente” resume Delmina Carneiro.

A bilha de azeite é acompanhada por uma pequena “jaula” de madeira, que servia para a proteger durante o transporte. Caso batesse em alguma coisa, não ficava amassada.
É uma das estrelas da companhia, para além dos 15 elementos que compõem atualmente o grupo e acompanha muitas vezes o grupo quando tem atuações fora de Lisboa. “Normalmente vamos de véspera e costumamos levar farnel daquele cesto”, descreve. É também usado para a decoração do palco. “Já participámos em concursos nacionais de música tradicional, precisamente para simbolizar que somos um grupo tradicional e mantemos viva a tradição”.
O grupo de Cantares Tradicionais do Técnico veio, na opinião de Delmina, colmatar uma necessidade que existia na instituição. “Grande parte dos funcionários que vieram para cá nos anos 70 era gente lá de cima da Beira Alta e do norte do país. E havia essa necessidade porque havia pessoas que tinham umas vozes muito lindas e que deviam ser aproveitadas. Reunirmos um bocado da cultura e das tradições da região dessas pessoas e trazê-las para dentro do Técnico”, descreve. O grupo, fundado no seio da Associação do Pessoal do Instituto Superior Técnico (APIST) e entretanto autonomizado, dedica-se ao levantamento e interpretações do cancioneiro de várias regiões do país, de norte a sul e ilhas.

Delmina acumulou 43 anos de funcionária do Técnico e está no grupo de cantares desde a sua fundação, há 21 anos, e mantém-se otimista com o futuro do grupo: “Fico contente porque vejo que entram pessoas quem nem estavam ligados a este tipo de música e estão a aderir e penso que serão eles que vão ser os continuadores deste grupo. Nomeadamente alunos que entram, vêm com um pensamento de se os mais velhos faltarem, nós continuamos. Enquanto os mais velhos e até os mais novos tiveram este espírito que temos tido, isto não vai terminar”. A vida do grupo manifesta-se todas as semanas no Técnico: há ensaios todas as segundas-feiras.

  • Agradecimentos:
    Delminda Carneiro
    Grupo de Cantares Tradicionais do Instituto Superior Técnico

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