Episódio 95: A balança de Faraday


Chama-se balança de Faraday mas o nome pode ser enganador. Ao contrário das pequenas balanças domésticas, este equipamento pode ocupar cerca de 15 metros quadrados de laboratório. Trata-se do primeiro equipamento de estudo do magnetismo adquirido para a investigação em Portugal, por volta de 1987, para dar forma aos trabalhos desenvolvidos no atual Campus Tecnológico e Nuclear (CTN) do Instituto Superior Técnico, situado em Loures (antigo INETI e ITN).
“A revolução que houve nos magnetos dos motores foi iniciada seguramente há 30 anos”, enquadra Manuel José Almeida, investigador jubilado cuja carreira de investigação foi feita no Técnico, nas áreas da Engenharia Química e de Materiais. Refere-se a uma das muitas evoluções tecnológicas que a tecnologia ajudou a alcançar: “praticamente quase tudo que tenha comportamento elétrico ou magnético”, como os motores elétricos atualmente utilizados em veículos, cada vez mais pequenos e fiáveis. Até que os materiais que os compõem pudessem ser utilizados foi necessário testá-los em laboratório. E foi aí que a balança de Faraday assumiu um papel crucial. “Quando estamos a desenvolver um material supercondutor (um tipo de materiais capazes conduzir corrente elétrica sem ou com pouca resistência e perdas) é muito importante ter este tipo de ferramenta ao lado para saber se o material que fizemos se tem propriedades melhores ou piores”, explica Manuel José Almeida.
A balança é um equipamento de caraterização magnética dos materiais ou, por outras palavras, um sistema que mede a variação de peso ou “a força com que um material é atraído ou repelido por um campo magnético”. “Cada objeto tem o peso, a força da gravidade, mas se tiver um campo magnético ao lado ou se estiver imerso num campo magnético, pode ser atraído pelo campo e o seu peso aparente aumenta ou diminui. É essa pequena diferença de peso que é medida, numa balança muito sensível”, explica.
Esta sensibilidade exige muita atenção e cuidados: uma mesa à prova de vibrações (o próprio laboratório não pode estar perto de uma estrada movimentada ou de uma linha de comboio) e o controlo de temperatura (à medida que são arrefecidos ou aquecidos, a suscetibilidade pode aumentar ou diminuir), por exemplo.

Este equipamento, que envolve a existência de um campo magnético gerado por supercondutores arrefecidos com hélio líquido, chegou ao CTN quando se começou desenvolver um grupo dedicado ao estudo de materiais. “Entre as ferramentas que era preciso para a caraterização de materiais, do ponto de vista magnético, foi escolhido o método de Faraday, a tal balança de Faraday”, recorda Manuel José Almeida. A dimensão da estrutura que dá suporte e complementa a balança – pés anti-vibratórios, amostra de material medida a cerca de um metro de distância onde é gerado o campo magnético – impõe a ocupação de muito espaço, mas também tinha um impacto significativo em altura. “Para aceder à parte de cima da balança, eu tinha que subir a um banquinho para ir lá”, recorda.

 

Categorias