Episódio 17: Os Modelos de Redes Cristalinas


À entrada da Torre do Sul, no campus da Alameda do Técnico, não passam despercebidos vários modelos de redes cristalinas, misturados com outros objetos do universo da química expostos em vitrinas e nas paredes. Esses modelos, que “permitem uma leitura química das interações entre moléculas, átomos ou iões que constituem cada cristal”, como nos explica Clementina Teixeira, professora aposentada do Técnico. Dois deles que selecionámos representam as estrututuras cristalinas do sulfato de cobre penta-hidratado e do ferricianeto potássio (nome comercial). O primeiro representa duas células unitárias, o segundo apenas uma e meia.
Materializam-se em pequenas bolas coloridas unidas por segmentos metálicos, dispostas em rede. “Uma rede cristalina é algo que se baseia numa rede espacial, que é um conceito matemático, e que explica como é que se distribuem os átomos, as moléculas ou os iões num cristal”, esclarece Clementina Teixeira.
Estas representações ajudam a perceber “a estrutura, os ângulos entre as ligações, como são feitas as ligações entre os constituintes para cada substância, os planos reticulares… Tudo isso dá informação química sobre as estruturas das substâncias e a maneira mais correta de as determinar é no estado sólido quando formam um cristal”, complementa.

“Há muitos modelos, estes são especiais porque são rigorosos”, defende. “A rede cristalina é infinita, mas estamos a tentar reduzir o infinito ao nosso objeto de estudo que é o modelo com a célula unitária”.
Os modelos de redes cristalinas, numa ampliação à escala de 100 milhões de várias substâncias, são também conhecidos como modelos miniatura Beevers, em homenagem ao seu criador Arnold Beevers (1908-2001), que criou uma empresa em Edimburgo que passou a comercializá-los. Os modelos que estão no Técnico foram adquiridos em 1998, em Budapeste e vieram de alguma forma revolucionar a pedagogia em torno dos modelos de cristais. “A alternativa a estes modelos eram outros feitos com esferas transparentes, compactas de outras cores. O que acontece é que fazíamos esses modelos às vezes em bolas de pingue-pongue. Os modelos [que existiam na altura] eram tão requisitados nas cadeiras de química geral, onde dávamos as estruturas do estado sólido, que andava toda a gente a usá-los”, recorda.
“Os modelos [de redes cristalinas do Técnico] são quase históricos porque foram comprados numa altura em que Beevers ainda era vivo. O gestor da empresa atual achou um encanto todo esse percurso de utilização dos modelos e de fotografar crianças a interagir com eles e ofereceu-se para reparar gratuitamente os modelos que estavam danificados (em 2018)”, conta.

Neta de um ourives – “cresci no meio de pedras preciosas” -, Clementina Teixeira recorda outro momento simbólico da divulgação dos cristais: o Crystals on the Rocks, projeto criado em 1991, num período em que o vulcão Etna entrou em erupção. O projeto foi integrado nas aulas em 1993, venceu um Prémio da Secretaria de Estado da Juventude em 1995 e deu origem a um kit para professores. Em 2019, Clementina Teixeira foi também uma das mulheres homenageadas pela Ciência Viva. Atualmente mantém-se ligada a projetos informais de divulgação da química: “Sou fascinada por tudo, neste momento estou a trabalhar em botânica. Quero continuar a produzir trabalho e também a colocar no Técnico um projeto onde não haja limites entre as várias áreas do saber. O que eu quero deixar ao Técnico são ideias, fundamentalmente”.

  • Agradecimentos:
    Clementina Teixeira

 

Ouvir também em: Spotify | Apple Podcasts | Achor.fm

Categorias