Episódio 6: O Computador Camões

O modelo de computador Sun Microsystems SPARCserver 1000 pode dizer pouco à maioria dos leitores. Mas se falarmos em computador Camões, levanta-se toda uma geração de formados em Engenharia Informática no Técnico nos anos 90. O Camões, com 512 Megabytes de memória, foi o primeiro computador a ser usado pelos alunos de Informática da Escola.
“Era a máquina de trabalho, a casa dos alunos de Informática, ou seja, onde as pessoas trabalhavam. Não era como hoje, em que temos os PCS, os telefones, os portáteis… aquilo era onde estavam as coisas das pessoas, que não tinham um computador em casa na maior parte das vezes. Quando trabalhavam no Técnico, era no Camões”, recorda David Matos, Professor do Técnico e responsável pelos laboratórios do Departamento de Informática.
“E depois havia aquelas coisas que hoje temos, como os fóruns, e tudo residia tudo à volta do Camões. Era uma espécie de contexto, além do curso”, complementa o também investigador do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores: Investigação e Desenvolvimento em Lisboa (INESC-ID).
O Camões permitia, assim, que dezenas de alunos dos laboratórios de informática trabalhassem em simultâneo nos seus projetos de programação. Terminais alfanuméricos, ligados por linhas em série a uns concentradores que, por sua vez, eram ligados à máquina (ao Camões). E 512 Megabytes dava para tudo? “Isso é uma coisa que evolui muito depressa… 15 Megas não era assim tão pouco, tendo em conta que a área de trabalho dos alunos se media em “Kapas” (Kilobytes). Também não era bastante… na altura, há mais de 30 anos, andávamos sempre a bater no teto. Mas a Tecnologia era outra”.

Será o Camões assim tão diferente das máquinas do presente? “As diferenças acabam por não ser muito relevantes. A máquina é igual. Em termos de estrutura do computador, é quase igual aos que usamos hoje em dia, mas com processadores mais lentos e muito menos memória. Mas tem uma arquitetura completamente diferente daquilo a que os alunos estão habituados, em particular a arquitetura do processador”, esclarece David Matos. E de onde vem o nome Camões? “A resposta fácil é: não sei”, brinca. “Quando o INESC apareceu, estávamos num contexto de revitalização da investigação, da indústria, etc. O projeto tinha como mote “vencer o Adamastor”, que era uma espécie de marasmo… se calhar o Camões vem dessa mitologia”, conclui.
Mas o computador tem mais coisas em comum com o autor dos “Lusíadas”: “Também já esteve debaixo de água, numa cave. Para qualquer máquina elétrica ter água perto, não é bom. Mas sobreviveu”, conta. E, até ao momento, superou também o desafio chamado tempo. Esteve parado cerca de 20 anos e foi recentemente ligado. Resultado: “Houve um pequeno estouro e morreu uma das 4 placas, mas as outras 3 ainda funcionam”.
Até quando sobreviverá? “O hardware está em degradação constante e a partir de certa altura… nunca mais liga. Há uma história em Itália de um computador que tem quilómetros e quilómetros de fio. Querem tirá-lo de onde está, mas têm a certeza que se o desligarem ele deixa de funcionar. Mas realmente tudo morre e o Camões, um dia destes, vai deixar de funcionar”.
Nos anos 90, dezenas de alunos dos laboratórios de informática trabalhavam simultâneo nos seus projetos de programação e partilhavam os 512 Megabytes de memória do Computador Camões. A história do primeiro computador usado pelos alunos de Informática do Técnico, no 6.º episódio do podcast “110 Histórias | 110 Objetos”.
110 anos de história e de histórias… para ouvir todas semanas.

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