Episódio 44 – As serigrafias do Centenário do Técnico

Tudo começou com uma espécie de residência artística que a pintora Ana Vidigal fez no campus da Alameda do Técnico, em 2010. Missão: sentir a instituição e produzir uma obra artística que assinalasse o centenário da Escola. “Ela esteve aqui no Técnico uns meses largos, fotografou praticamente tudo, sentiu o Técnico e transcreveu-o para duas serigrafias e uma exposição feita no Pavilhão Central”, explica Palmira Silva, docente no Departamento de Engenharia Química do Instituto Superior Técnico que foi também responsável pela programação das comemorações do Centenário do Técnico, em 2011. “O que ela fez foi duas colagens que de certa forma traduzem a amálgama que é o Técnico, que é uma cidade dentro da cidade, e tem uma diversidade enorme de pessoas, línguas e nacionalidades”, complementa.
Falamos de dóis painéis de grandes dimensões, duas serigrafias atualmente colocadas à entrada do Pavilhão Central, uma na loja e outra na receção. São feitos praticamente só com colagens, com realce para as cores vermelha e azul, respetivamente, através de recortes de esquadrias de bandas desenhadas dos anos 30. “Tive em atenção, nas serigrafias, os 100 anos do Técnico e as datas”, complementa Ana Vidigal. Um conjunto de réplicas assinadas e numeradas encontra-se também à venda na Loja do Técnico.

Para além da diversidade, as serigrafias parecem ser um reflexo de “uma das coisas que mais impressionou a artista no Técnico”: os tampos de madeira das mesas dos Grandes Auditórios do Técnico completamente gravados com desenhos e frases. A tese é de Palmira Silva que justifica o paralelismo: “uma das serigrafias mais parece um dos tampos mais artísticos que ela encontrou”.
As obras surgiram no contexto da celebração dos 100 anos do Técnico, servindo também o propósito da remodelação do átrio do Pavilhão Central. “Quando começámos a olhar para o espaço, senti que faltava qualquer coisa. E como na altura já estávamos a trabalhar nos documentos de Bensaude [fundador e primeiro diretor do Técnico – ver episódio 40] que era um homem da Renascença, achámos que numa Escola de Engenharia faltava uma obra de arte logo ali na entrada”, explica Palmira Silva.
A ideia inicial passava por uma exposição de pintura. “Propus outra solução, que foi bem acolhida”, recorda Ana Vidigal. A solução encontrada passou pelas duas serigrafias “produzidas a um custo irrisório com a contrapartida de poder fazer o que quisesse depois na exposição que ia fazer no átrio do Técnico”. Assim foi. E nasceria também a exposição “Casa dos Segredos”, materializada num autêntico labirinto construído com os cacifos dos estudantes do Técnico. “Nas deambulações pelo Técnico descobri que havia umas caves cheias de cacifos. Pus um papel nos cacifos a perguntar quem queria entrar numa peça de arte contemporânea e quiseram todos”, recorda. Os estudantes passaram a usar os cacifos nessa zona, circulando muito mais por essa divisão do edifício. “Havia histórias de pessoas dentro daqueles cacifos”, defende a artista, que ocupou também um deles com as suas agendas pessoais desde 1989.

A par das obras de arte e da instalação artística, recuperava-se também o mobiliário que está agora na receção, um original desenhado por Pardal Monteiro [arquiteto autor do projeto do campus – ver episódio 19]. “A nossa ideia era mostrar o que era o Técnico: a modernidade na continuidade”, recorda Palmira Silva. Valeu a pena? Ana Vidigal diz que sim. “Gostei imenso. Deixaram-me fazer tudo o que eu queria. Achei até que ia encontrar mais resistência”.

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